COMÉRCIO EXTERIOR, LIXO E RECICLAGEM
Com o rápido avanço da tecnologia dos últimos anos, diferentes máquinas, automóveis, indústrias, construções e aparelhos foram surgindo. Apesar da praticidade e dos milhares de benefícios que essa modernidade nos traz, outros problemas vieram à tona, como o mau uso do meio ambiente e das matérias primas, a poluição e o descontrole do ser humano com a grande produção de lixo devido ao alto nível de plástico utilizado (e demais materiais que demoram a se decompor) além da obsolescência dos produtos que fazem com que sejam descartados rapidamente.
E como é feito esse descarte? Para onde todo esse lixo produzido vai? Assim, surgiu um novo problema mundial que iremos analisar hoje: a exportação de lixo – que acontece majoritariamente de nações ricas e com alto nível de desenvolvimento industrial que descartam seus resíduos em países pobres.
Cerca de 50% do plástico produzido mundialmente era enviado para processamento na China, que parou de aceitar em 2018 pois não conseguiam reciclar tanto volume, o que causava diversos problemas para o país. Mas outros países asiáticos como Malásia, Índia, Indonésia, Bangladesh e Vietnã continuam recebendo toneladas de lixo vindos, principalmente, dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Espanha e Reino Unido. O maior problema é que muitas vezes esse envio ocorre de forma ilegal e os países descartam lixo que não podem ser reciclados, apenas para eliminá-los de seu território.
Países africanos também sofrem com esse problema, recebendo bastante lixo eletrônico como sucatas de computadores, telas de TVs e laptops e criando “cemitérios de eletrônicos” onde diversos trabalhadores tiram seu sustento. Porém, o amontoado desses produtos emite substâncias tóxicas como mercúrio, chumbo, cádmio, arsênico que ao serem expelidas prejudicam o solo, a atmosfera e a saúde das pessoas.
Exemplo de cemitério de eletrônicos em Gana – Imagem retirada do BBC News.
Assim, a sustentabilidade se tornou uma das pautas mais em evidência dos últimos anos, levando países a assinarem acordos para evitar a poluição e produção de lixo exacerbada. Diversos órgãos internacionais como ONU, UNESCO, Greenpeace também criam diversas medidas para evitar tais problemas.
Em 2019, o caso da Austrália ficou famoso, quando o país que exportava milhões de toneladas anuais optou por parar de enviar seus resíduos recicláveis para o exterior sob a frase do primeiro-ministro: “São nossos resíduos e são nossa responsabilidade”. Pouco antes dessa decisão, a Indonésia e a Malásia haviam devolvido mais de 300 toneladas de lixo para a Austrália, pois os contêineres continham material perigoso e lixo doméstico.
QUAL É A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NESSE CENÁRIO?
Segundo dados da World Wide Fund for Nature (WWF), o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11 milhões de toneladas ao ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.
Em 2020, o Brasil exportou legalmente mais de 2 mil toneladas de desperdícios, resíduos e aparas de plásticos sendo os Estados Unidos o principal importador, com 52% do montante, valor FOB de US$554 mil. Em seguida, o Paraguai com 26%, Israel (9,8%) e Malásia com 6,4% de participação. Já nas importações desses produtos, foram 6 mil toneladas no ano passado de diferentes origens: EUA, Portugal, Espanha, México, Barbados, Uruguai, Paraguai, Bolívia, dentre outros.
No entanto, vários problemas relacionados à importação de lixo no Brasil já foram expostos pela mídia após apreensões de contêineres ilegais realizadas em portos pela Receita Federal e IBAMA.
A foto acima foi uma apreensão realizada no Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. A carga vinda da Flórida, nos Estados Unidos, continha 1000 toneladas de lixo tóxico, desde papeis à restos de alimentos. A empresa importadora foi multada e devolveu toda a carga ao remetente, outros casos em Itajaí, Santos e Recife também já foram notificados.
Há um debate internacional sobre proibir ou não esse tipo de comércio, mas acreditamos que o ideal seja priorizar o comércio de recicláveis, para ajudar o meio ambiente como um todo, e que os órgãos competentes atuem rigorosamente no combate de envio ilegal de lixo tóxico a fim de evitar que países pobres sofram ainda mais com esses itens tão nocivos.
Iara é graduanda em Relações Internacionais e Comércio Exterior. Produtora de conteúdo na página ComexLand com experiência de mercado na área comercial, de logística e importação.