Crise na Venezuela: como uma nação tão rica em petróleo não conseguiu manter seu staus?
Durante as décadas de 1950 a 1980, a Venezuela tinha um dos maiores Produto Interno Bruto (PIBs) per capita do mundo. O apelido “Venezuela saudita” em alusão à Arábia Saudita era difundido internacionalmente devido à sua riqueza de petróleo, que até os dias atuais é responsável por 95% da entrada de moeda estrangeira no país.
Naquela época, a capital Caracas tinha prédios modernos e grande parte dos habitantes ostentava um alto padrão de vida, o poder de compra do venezuelano era quase três vezes maior que o dos brasileiros e não era tão raro ver os cidadãos passando férias nos Estados Unidos. A inflação venezuelana que já atingiu 1.000.000% nos últimos anos estava sempre entre as menores da América Latina entre os anos de 1959 e 1983.
Mas como a crise que abalou o país chegou nesse estágio de hiperinflação e escassez de recursos no geral? Como um país rico em petróleo não tem combustível?
Ao analisar a história das ex-colônias, inclusive o Brasil, vemos que as reservas de recursos naturais não são suficientes para que o país seja rico e desenvolvido. Além do petróleo, a Venezuela também se beneficia com uma boa localização geográfica para exportação, carvão, ouro, madeira e terras férteis, mas sem um setor público bem projetado e eficiente para administrar esses recursos, é inviável manter uma economia forte.
Historicamente, a Venezuela tinha o combustível mais barato do mundo, o valor da gasolina nos postos era tão irrisório que muitas vezes os clientes nem pagavam, mas agradeciam aos frentistas com “presentes” como sacos de arroz, algum doce ou uma quantia em dinheiro. Até então, a única coisa barata no país castigado pela hiperinflação.
Após a aplicação das sanções impostas pelos Estados Unidos, o valor da gasolina chegou a custar o equivalente a R$11 o litro no país, tornando-se hoje em dia a gasolina mais cara do mundo, além das longas filas aguardando por abastecimento, muitas vezes sem sucesso. Essas sanções impostas por Donald Trump no ano passado incluem a suspensão das importações de petróleo e o pagamento das mesmas, pressão para que Nicolás Maduro renuncie seu cargo não democrático e traga liberdade para os cidadãos sob o comando de Juan Guaidó.
A dificuldade em manter o estoque do combustível acontece pois o petróleo venezuelano é extra pesado e para se extrair gasolina é necessário um longo processo de refinaria onde são usados químicos importados e a tecnologia estadunidense, mas com o bloqueio econômico, a crise se instaurou ainda mais.
Além do combustível, o país também enfrenta outro problema que não faz sentido para uma nação rica em recursos energéticos: desde o ano passado, a onda de apagões se espalhou pelo território. Segundo as agências do setor elétrico, isso se deu pela sabotagem criminosa contra o sistema de geração de energia, mas a oposição culpa o governo pela corrupção que interfere nos investimentos em infraestrutura.
E as relações comerciais com o Brasil?
A Venezuela chegou a ser um dos principais parceiros comerciais do Brasil, mas com o agravamento da crise nos últimos anos, houve uma queda considerável de quase 90% nas exportações do Brasil para a Venezuela. Em 2008, ela se destacava como um dos principais importadores de produtos brasileiros, totalizando mais de US$5 bilhões. Já no ano passado (2019), apenas US$420 milhões foram exportados para o nosso vizinho. Confira os valores desde 2008 no gráfico abaixo:
As importações de origem brasileira que mais se destacaram na Venezuela nos últimos anos foram de açúcar, gorduras e óleos vegetais, arroz, farinha de trigo e outros produtos comestíveis.
Enquanto isso, o volume dos produtos venezuelanos importados pelo Brasil também registrou grandes quedas. Enquanto em 2008 importamos US$ 538,75 milhões, no ano passado o valor FOB foi de US$80 milhões apenas, o maior destaque foi para o álcool acíclico seguido da energia elétrica e alguns metais como ferro, aço, alumínio e demais objetos da indústria de transformação.
Iara é graduanda em Relações Internacionais e Comércio Exterior. Produtora de conteúdo na página ComexLand com experiência de mercado na área comercial, de logística e importação.