COMÉRCIO EXTERIOR: VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO ERRADO | 5 dicas para novos importadores/exportadores

Decidi escrever esse artigo após uma corrida de Uber a caminho do trabalho. Papo vai papo vem, o motorista me perguntou:

– No que você trabalha?

Bom, toda vez que escuto essa pergunta, é um momento reflexivo que respiro fundo, porque eu sei que a conversa vai ser longa. Normalmente pessoas incríveis me perguntam: como trazer celular da China, roupas dos Estados Unidos, qual a cotação do dia, como importar produtos ilícitos.

E dessa vez não foi diferente:

-Trabalho com Comércio Exterior.

-Você importa ou exporta?

-Trabalho com uma etapa do processo de importação. (Se eu falar que trabalho com DESCONSOLIDAÇÃO MERCANTE teríamos que rodar Curitiba inteira)

-E o que mais vem?

-Máquinas, peças,commodities,roupas…

-Ah que legal! Estou querendo trazer algumas coisas da China ou Estados Unidos para vender, mas tem que ser originais, roupas da NIKE, ADIDAS, podemos fazer uma parceria.

Estou querendo trazer algumas coisas da China…

-Você tem uma empresa?

Não, mas seria para revender aqui mesmo…

Provavelmente se ele visse minha cara pelo espelho retrovisor estaria mais ou menos assim:

Essas perguntas e afirmações são muito comuns entre os brasileiros, acredito que muitas pessoas possuem o desejo de importar produtos para revender no país, a fim de gerar renda. Claro, que esse projeto pode se concluir, porém é necessário conhecer leis, estudar os riscos, além de possuir um capital inicial para investimento, demanda muito estudo, tempo e paciência.

Poucas pessoas sabem que é ilegal importar produtos como pessoa física e comercializar no Brasil. Incluindo quando sua tia vai pra Miami/Paraguai e traz umas “brusinhas” para vender. Afinal toda mercadoria transferida de território estrangeiro para nacional é uma importação.

Vou trazer produtos baratos da China para revender no Brasil para ganhar muito dinheiro!

A primeira coisa que eu falei para o motorista foi para consultar uma empresa especializada para auxilia-lo a criar um radar e apresenta-lo a fornecedores confiáveis, e expliquei que o meu trabalho é apenas uma etapa do processo de importação. Para não desanima-lo ainda mais, nem comentei o fato que marcas como Nike e Adidas precisam de um autorização especial para revenda dos produtos em outros países.

Talvez se qualquer pessoa que desejasse trazer um produto da China/EUA para revender no Brasil passasse 1 dia, ou apenas algumas horas, em um escritório de agenciamento de cargas provavelmente desistiria da ideia, sabendo tudo que pode acontecer durante esse processo…

Não apenas o fato armador ter o direito de jogar a carga ao mar (se arriscar a segurança do navio) ou as multas que podem surgir ou valores altos de demurrage, parametrização, taxas e mais taxas, mas pelo simples fato da burocratização no Brasil ser ilógica;

Eu tinha um professor na faculdade que dizia:

Nessa área, não tenham medo de assalto, nem de sequestro. Tenham medo da Receita Federal.

Meu conselho final para o motorista e para todas as pessoas que tem o desejo de importar mercadorias é estudar, estudar e estudar. É um projeto possível, porém como dito nesse artigo demanda muita dedicação diária e atualização constante. Essa área não é fácil, muito pelo contrário, até para quem trabalha há anos no comércio exterior aprende algo novo todos os dias.

DICAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO:

1) Estudo da mercadoria

Defina qual é o produto que você irá importar ou exportar, faça um plano de como as vendas serão realizadas, como o produto chegará até o destino final. Defina o seu nicho;

  • Qual o seu objetivo de eu importar ou exportar esse produto?
  • Quais documentações esse produto demanda para transporte internacional?
  • Ele fica melhor acondicionado em qual embalagem?
  • Qual a quantidade?
  • Esse produto demanda alguma atividade/documentação especial?
  • Esse produto possui algum órgão anuente que o fiscaliza?

A resposta dessas perguntas te trará clareza sobre sua mercadoria e seu embarque, após essa etapa você deve saber dados detalhados sobre a sua mercadoria, como PESO, QUANTIDADE, EMBALAGEM, URGÊNCIA e consequentemente poderá decidir o MODAL DE TRANSPORTE e o INCOTERM.

Comece a se familiarizar com as documentações necessárias como: Packing list, invoice AWB/BL, licença de importação, DU-E ou DU-IMP e documentos especiais como certificados de origem. E também a verificação da embalagem e código de barras.

2) Planejamento da operação logística;

Após chegar em todas as conclusões da etapa 1, é necessário que o estudo da operação logística seja realizado: estudo das burocracias, do país de origem, do país de destino e seus riscos para que tudo ocorra bem no frete.

Para ajudar na analise de riscos, vale a pena utilizar a ferramenta da analise PESTAL , que é o estudo Político, Econômico, Social, Tecnológico e Legal da operação internacional da sua mercadoria.

Nessa etapa do planejamento a contabilidade é essencial, não se esqueça de definir o preço de importação e exportação, analise todos os custos que terá e os que pode ter.

3) Networking e busca por fornecedores;

A pergunta mais comum para novos importadores e exportadores é:

– Como encontrar um VENDEDOR / COMPRADOR em outro país?

Porém não é nessa pergunta que você encontrará a maior dificuldade. Atualmente, é possível encontrar vendedores/compradores confiáveis no exterior, apenas com a ajuda da internet e alguns sites. Networking e a busca por fornecedores não se limita a encontrar um comprador ou um vendedor. Em uma operação logística há diversos envolvidos.

Nessa etapa eu sugiro a você que busque contatar pessoas que já realizaram uma operação semelhante a sua, afinal para isso temos grupos de LinkedIn, Facebook e vídeos de graça no youtube, todo conhecimento que você tiver de pessoas que já tiveram essa experiência é bem vindo no momento.

Defina quem será o agenciador da sua carga, ou se sua mercadoria tem condições de ser enviada por remessa expressa, procure conhecer o trabalho do despachante aduaneiro e escolha um que se enquadre com seu perfil e possa te ajudar em todo o processo.

  • Peça para ver as credenciais e certificações de cada profissional;
  • Ouça o feedback de alguns de seus parceiros/clientes anteriores;
  • Verifique há quanto tempo o agente está operando;
  • Note se há filiais próximas onde a carga será desembarcada.

4) Ação;

Hora de colocar em prática todos os fatores indicados no estudo e planejamento. Nessa etapa o incoterm já deve estar definido e você deve fazer o credenciamento no RADAR e saber quais fornecedores se adaptam mais com a sua carga. Para então realizar cotações e orçamentos, sempre lembre de especificar TODOS os dados da sua mercadoria para que nenhuma surpresa aconteça no meio do transporte.

  • Quantidade, peso bruto, peso líquido, cubagem, dimensões;
  • Incoterm e modal;
  • Qual a mercadoria, NCM;
  • Possui algum procedimento especial;

5) Acompanhamento

Mesmo depois de planejar toda a operação, na hora da execução é necessário o acompanhamento da carga, e atualização constante, por isso é essencial ter fornecedores possuam um bom relacionamento e prezem pela honestidade e agilidade no envio de informações. Nunca deixe tudo “na mão” do seu forncedor, você também é responsável pela conferência de toda a documentação.

Quem é Kauana Pacheco ?

Kauana trabalha e escreve sobre Comércio Exterior e Relações Internacionais, residiu em St. Petersburg na Flórida, onde aprendeu a língua inglesa e teve a oportunidade de se inserir na cultura americana, e também pôde conhecer culturas de diversas partes do mundo.

  • Siga o perfil de notícias do Comércio Exterior : @comexland
Kauana Pacheco

Kauana Pacheco

Kauana é formada em Negócios Internacionais e é pós-graduada em Big Data & Market Intelligence. Kauana é a fundadora da ComexLand, onde atua como especialista em marketing focado para empresas do Comércio Exterior e Logística Internacional.